sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Isso é um trabalho para... o público!


Depois que inventaram esse negócio de “dramaturgia aberta”, dá até medo de representar ou escrever alguma peça de teatro. Ta, tudo bem, quando eu nasci a dramaturgia aberta já tinha uns par de anos. Mas ultimamente, as peças que temos escrito estão cada vez mais regadas de simbolismos, propositais ou não, já que alguns só ficamos sabendo que existem depois da avaliação do público.
Não sei se realmente se aplica o que um caríssimo professor que tive disse, entre outros tantos blá blá blás, que o público está se tornando “auditor”, ou se todo mundo ta acostumado com esse lance de “mensagem subliminar” e vê chifre em cabeça de mula sem cabeça. Mas normalmente os intelectualóides falam mais asneiras do que aqueles que não entenderam bulhufas, e tem o bom senso de ficarem quietos.
A última peça que escrevemos juntos (nós do Tecoa Beraca), “Estela”, era basicamente a história de uma moça que sonhou estar em um cemitério, uma noite antes de tentar abortar. Antes de apresentarmos a peça, conversamos sobre tantos “simbolismos” que a peça continha, que não tínhamos dado conta antes. Mas o impressionante foi o que uma garota (inclusive aluna do professor que citei acima) disse a respeito do novelo de lã que Estela achou numa gaveta: “Cara, parecia um coração! As linhas soltas eram artérias, não?!” O meu “ahaaaam” da resposta trazia consigo uma lembrança, também carregada de simbolismo de um diálogo que aconteceu minutos antes:
Eu – Dani, cadê o novelo?
Dani – Ta dentro da caixa.
Eu – Mas Dani, vc não falou que ia tricotar um casaquinho?
Dani – Ixi nega, não deu tempo!
Eu – E agora? O que faremos?
Dani – Ah, vai esse mesmo!
Eu – mas esse tá todo estrupiado! A gente destruiu ele no ensaio!
Dani – vai esse mesmo, nega.

Isso me lembrou outras percepções do público sobre as cagadas que fizemos (eu mais o saudoso (pra mim) grupo Qorpo), em tempos passados:

Uma menina – Cara, que ótimo o cara não ter saído da lama antes que tirássemos o lixo de perto!
Neuri (o diretor) - ...?
A menina – e se ninguém tirasse o lixo de lá?
Neuri – Ah, a gente ia dar um jeito...
(Comentário sobre a performance apresentada em Cascavel, que era pra ter durado uns 20 minutos, mas se estendeu por 50, pq um dos caras dormiu qdo deveria ter levantado da lama, nos últimos minutos)

Uma colega de performance – menina, que coragem que vc teve pra jogar toda aquela tinta azul na cabeça!
Eu – é... a gente se esforça...
(Quando os meus 5 graus de miopia não me deixaram ver que a garrafa era de tinta e não de água!)

Alguém – nossa, como vc conseguiu ficar tanto tempo pendurada na árvore?
Eu – he he he ... pois é...
(Sobre quando me pendurei na árvore pra cobrir o furo de erro de marcação e não consegui voltar pra mesa de onde me joguei, nem descer pq não enxergava o chão, e fiquei com medo de cair em cima da caixa de som)

Um acadêmico – Meu, que massa o cara que ficou sentado lendo o livro o tempo todo! Representou muito bem a solidão!
O cara – he he he ... pois é...
(Sobre quando o cara não teve tempo de decorar nenhum poema sobre solidão porque teve que estudar pra uma prova de estatística, saiu direto da prova, sentou no banquinho e enfiou a cara no livro de poesia que deveria ter decorado)

Uma acadêmica – foi super legal a idéia de fazer uma propaganda da peça na hora da chegada do povo na faculdade!
Neuri – Ah, melhor, pq senão ninguém ia saber que ia ter peça no intervalo!
(quando (no mesmo dia da árvore) não me avisaram que a peça não seria na chegada do povo, e sim no intervalo!)

Acadêmicas de Secretariado Executivo Bilíngüe – Bando de retardados... que sujeira!
(Sobre nossa mais genial instalação de fotos de espetáculos em paredes de fita larga)

Por essas e outras que digo... melhor não dizer, porque pode ser que entendam o que eu não disse.
Aprendi que não precisamos encher as peças de grandes idéias, signos ou intenções. Pra isso existe o público “auditor”! Melhor é simplificar, já que, como bem lembrou o ilustríssimo professor já citado: Não há nada mais parecido com uma vaca do que a palavra vaca.

10 comentários:

  1. Eh laiá, quando eu digo atualizar, não é contar o Pentateuco...rs

    Bem, nós acordamos e dormimos discutindo esta porcariada de teatro, me recuso a gastar minha lábia falando deste bando de tonto que perde a vida fazendo e assistindo peça.

    Para mim, uma peça é um grande quebra cabeça, sem peça!!!

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  2. rsrs
    a infinidade de páginas é fruto da minha amestração!
    E duvido que sua opinião sobre o teatro seja assim tão fechada mesmo, mesmo sobre a dramaturigia aberta!

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  3. o Rodrigo deve estar com algum trauma de teatro... mas desculpa ai se nós(o público)temos a imaginação fértil...rsrsrs, mas no meu caso os comentários são cheios de "mas pq foi assim?","aquilo era pra acontecer?"...
    [FER]

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  4. kkk
    ai, lembrei das aulas de teatro do absurdo, na facul de letras, kkkk
    E continuamos esperando Godot!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Beatrice - para coisas banais e inúteis, minha cabeça é tão fechada qto mão de judeu!

    Fer - tua cabecinha, assim como a da Erva, é fértil pq o adulbo é aquele velho conhecido orgânico, né? ¬¬ E quem terminou de me traumatizar foi sua amiga aí, que só me leva em furada.

    Carla - Nem toque no assunto "teatro do absurdo" com a Erva, que ela vai levar nada menos que 2h e 40 minutos para te falar "um conceito básico" dessa jossa.

    Daqui a pouco vocês vão admitir que gostam de Teatro Mágico...

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  7. RODRIGO "......" sem comentários

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  8. Nossa, tinham algumas "passagens" que eu já me esquecia guria!!!
    Bons tempos aqueles do Qorpo!!!!!!

    kkkkkkkkkkk

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  9. Ah, Paulo, o que eu nunca vou esquecer é daquela: "João amava Tereza que amava Raimundo que amava... amava... Maria que amava... amava... Lili? não... amava... pérai que vou lembrar e já volto..."

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