terça-feira, 19 de julho de 2011

Tetris e o jogo da memória

Trocamos o resta um pelo tetris. "Jogo chato, André!"
Mas este também era bom para jogar só, sem ninguém apressando, esperando a sua vez. E quem cansava ia brincar lá fora. Detetives e pistas, loja de inventos, leite esquentado com barro inventado, maçã podre como prêmio. "Sacanagem, André!"
A Carla não subia em árvores. Tinha medo de borboletas. 
A Clara e a Débora eram muito pequenas. A Denise cantava. Sempre, mas nem sempre versos bem bonitos. A Deise foi a primeira a ir embora. E nem disse adeus. Nem entrou na roda. O Saulo e o Daniel apareciam pouco. Menos que o Anderson. Vinham só para jogar sinuca e dar ideia de trancar a Carla no banheiro (debaixo da casa, no galinheiro abandonado - a nave espacial...). 
Eu era vendida. Ninguém desconfiava que eu brincava de traficar segredos. De fora para dentro de mim.
Hoje até o passa-anel é passado. O mês é o passado e o que vem. Jogos são só lembranças. Mudamos de lugar e de quebra-cabeças. Cansados, todos brincamos lá fora. E tetris é uma metáfora. Resta só o café passar e o leite aquecer. Resta uma peça cair. Resta esperar o que vai acontecer.



quinta-feira, 14 de julho de 2011

Novidades terríveis

Me sinto na obrigação de comunicar qual foi o resultado da pior coisa que fiz na vida.
Fomos selecionados, Allan Daniel e eu, entre os cinco primeiros em ordem de classificação (fato do qual nos envergonhamos), para ofertarmos nossa massa cinzenta ao governo e passarmos dois longos anos entre aqueles cujo nome não mencionamos, no exercício da mais sublime e eficaz arma de que Deus nos dotou para suportarmos tal degradação psico-sócio-político-cultural: paciência.
Sim, eu disse dois anos.
Por dois anos, peço que não me tentem convidando para fazer qualquer coisa aos sábados pela manhã, nem em sextas à noite que possam vir a comprometer também o sábado de manhã. E se fizerem algo divertido neste tempo, não me deixem ficar sabendo. Por dois anos preciso pensar que ninguém no mundo tem vida social.
Já tomamos as providências necessárias, pesquisamos o nome dos nossos novos colegas de cela no facebook (coisa que os de RG menor que 6.999.999.9 não tem, e os que o tem são assustadores) e estamos bolando estratégias para facilitar a produção de trabalhos pedag(me recuso a escrever esta palavra neste blog) e para nunca, nunca, nunca, fazermos trabalhos em grupos.
Lembrem-se do nosso drama quando estiverem fazendo qualquer coisa de que não gostem e agradeçam a Deus por não serem funcionários do Estado.