terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Tudo tão rápido...


     Era uma tarde de dezembro, dia 17 talvez. Eu estava matando aula – ou as aulas já haviam terminado? Não me lembro... – era fim de tarde e eu estava com alguma colega jogando vôlei antes de ir para casa. Era uma bola muito velha – ou uma bola de plástico? não me lembro – e não dava para jogar direito. Tudo bem, não sabíamos jogar. Um menino observa e aparece com uma bola de vôlei de verdade e nos ensina a fazer algo parecido com o que hoje conhecemos como manchete. Parecia o Kiko, aparecendo com uma bola nova, nos fazendo esquecer do brinquedo velho.
    
     Começou a chover. “mas você está de guarda-chuva” me disse o menino apontando para minha camiseta branca com o desenho de uma Minie segurando um guarda-chuva. Sorri, pois não havia prestado atenção na minha camiseta antes.
Isso aconteceu em 1994, eu tinha 10 anos e estava na quarta série.
    
    Esse menino era o Gabriel. Neste dia eu aprendi que vôlei não era só jogar a bola pra cima, passei a prestar mais atenção às coisas, levei um xingão do meu pai por tomar banho de chuva e ganhei um amigo.
  
    Não me lembro como continuamos nossa amizade. Mas ela continuou. Ele, um ano mais novo que eu, estudava em outro turno, fazia outras coisas, conhecia outras pessoas. Mas sempre nos encontrávamos.

    Naquele dia não sabia que ele tinha irmãos, não sabia quem eram seus pais, não sabia onde moravam. Não sabia que tínhamos quase o mesmo número de telefone, que quase todas as nossas piadas seriam influenciadas pelo Chaves, nem que teríamos melancolias parecidas, nem que acreditávamos no mesmo Deus, nem que freqüentaríamos a mesma igreja, que teríamos a mesma fé, que freqüentaríamos a casa um do outro, ou que viajaríamos quilômetros para nos encontrarmos simplesmente porque gostávamos de estar juntos.

     Assim se seguiram nossas vidas. Várias tardes, várias noites,várias viagens, vários filmes, várias músicas, várias piadas, os mesmos risos, algumas lágrimas. Alguns amigos mais chegados que irmãos.

     Fui morar em Campo Grande, ele foi me visitar. Voltei a Mundo Novo, o segundo lugar que fui foi sua casa. Fui morar em Cascavel. Minha terceira casa sempre foi sua casa. Fui para Novo Sarandi, minha mãe contou com ele para encabeçar minha festa surpresa de 21 anos. Fui para Toledo, adivinha quem se aventurou comigo na BR esburacada de madrugada, de Bis, em seu primeiro dia de férias para me proporcionar a alegria de assumir um concurso público depois de tanto tempo de estágio e vida de merda?

    Viajamos, rimos, fizemos planos, cortamos planos, sempre distantes geograficamente, nunca separados. Desde que vim para Curitiba me visitou várias vezes. Uma amizade de 18 anos, sem desentendimentos, sem discussões, sempre muito francos um com o outro. Até mais do que gostaríamos...

    Muitos dos nossos planos funcionaram. Alguns porém, eram impulsivos demais para ele, outros, organizados demais para mim. Estes orquestramos sozinhos. Ainda assim com apoio, ou pelo menos conhecimento mútuo.

    Uma coisa, no entanto, não consegui fazer, que foi visitá-lo em Campo Grande. Ele se mudou para lá se não me engano em junho deste ano. Eu teria ido para lá em julho se não tivesse torrado toda minha grana na Argentina.

    Na semana retrasada ele me manda uma mensagem, para me contar, segundo ele “não boas notícias”. Estava internado, lutando contra um câncer. Essa notícia me veio em um “não bom momento” por qual eu passava. E me ajudou a ver que não somos nada, portanto não podemos julgar ou ser julgados por nossas incompletudes.

     Meu coração se uniu ao dele, mais do que nunca, e toda a minha força se concentrava na esperança de vê-lo sair daquele hospital. Continuava conversando com ele por mensagens; no penúltimo sábado foi a ultima vez em que ouvi sua voz. Na ultima terça recebo sua mensagem de que saiu bem da cirurgia e estava sem dores. Essa foi a última mensagem dele que recebi.

     Infelizmente ontem soube que ele não resistiu. Não pude vê-lo sair daquele hospital, não pude mais ouvir sua voz nem ler suas mensagens. Não pude fazer nada. Ainda não pude ir ver sua família, que com o passar dos anos se tornou parte da minha vida.

     Mas ainda me lembro claramente de sua voz e tudo que minha memória ouve com o som dela são suas piadas, seus trocadilhos, seus planos, suas esperanças e seus risos.
Sério, depois que desliguei o telefonema de minha irmã que me ligava para me perguntar se o que ela estava sabendo era verdade, o que esperava era receber seu telefonema ou sua mensagem me dizendo: “brincadeira de criança, como é bom, como é bom”.

     Gabriel vai deixar comigo um desejo de realizar coisas que já havia desistido, lembranças de um tempo muito bom que não volta, de outro tempo melhor, que ainda está por vir e uma saudade profunda da amizade que mais marcou a minha vida.

      Te amo Gabe.



P.s .: O último texto que postei neste blog foi um tanto abstrato. Mas era destinado a uma pessoa muito querida a quem eu estava prestes a perder. Graças a Deus, tudo deu certo e eu pude enviar o texto para que a pessoa lesse e soubesse o quanto é importante para mim. Queria ter escrito este texto, ou algo parecido com ele, ontem de manhã, para que o Gabe lesse depois da primeira etapa da quimioterapia. Mas infelizmente tudo foi tão rápido que não pude alcançar o objetivo desejado com este texto. Porém, me sinto feliz hoje poder dizer que eu sempre deixei claro para o Gabe o quanto ele é importante para mim.


Um comentário:

  1. Só o q nos resta são as lembranças da pessoa maravilhosa q o Gabriel foi, um grande amigo, q mesmo nos deixando um grande vazio por sua ausência, tbm nos deixou a sua alegria, a sua determinação, pena ñ saber q minha viagem a Campo Grande seria nossa ultima viagem juntos com certeza teria ficado mais tempo lá, + msm valeu a pena estar com ele e compartilhar a alegria do seu sonho sendo realizado, ver como ele estava feliz e realizado, me alegro por ter feito parte da vida dele e deixar claro pra ele q ele era importante pra mim...

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